segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Cantita Mundana

Cantiga mundana

De teus olhos retirei a tristeza,
bebi as lágrimas salgadas;
lambi o abandono.

Ofereci esperanças, doei certezas -
segurança - e os lambuzei
com o mel dos meus.

Da tua boca seca arranquei
o riso louco da fêmea abandonada,
o sorriso morto de Jocasta!

Com os dedos refiz os sulcos
da boca ferida.
E com minha própria saliva
matei tua sede de vida.

Lavei tua alma, e a vesti
novamente em brios.
E - como se não bastasse -
a enfeitei com fios,
roubados, dos pêlos do homem
que, antes de mim, era o teu.

Te abri as pernas, as portas,
os segredos e a cama.
Te banhei no gozo de infinitas
noites profanas.
Te ninei em cantigas mundanas.

Depois de lavada, lambida.
Já saciada, curada, vestida.
Retornastes ao teu destino
errante, para os braços do corno delirante!
Me deixando apenas alguns
pêlos dourados - que fiz de lembrança -
de adereço, para vestir pelo avesso,
com outra mulher.

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