segunda-feira, 9 de novembro de 2009

E por que haverias de querer...




E por que haverias de querer minha alma

Na tua cama?

Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas

Obscenas, porque era assim que gostávamos.

Mas não menti gozo, prazer, lascívia!

Nem omiti que a alma está além, buscando

Aquela Outra. E te repito: por que haverias

De querer minha alma na tua cama?

Jubila-te da memória de coitos e de acertos.

Ou tenta-me de novo. Obriga-me.

Cantita Mundana

Cantiga mundana

De teus olhos retirei a tristeza,
bebi as lágrimas salgadas;
lambi o abandono.

Ofereci esperanças, doei certezas -
segurança - e os lambuzei
com o mel dos meus.

Da tua boca seca arranquei
o riso louco da fêmea abandonada,
o sorriso morto de Jocasta!

Com os dedos refiz os sulcos
da boca ferida.
E com minha própria saliva
matei tua sede de vida.

Lavei tua alma, e a vesti
novamente em brios.
E - como se não bastasse -
a enfeitei com fios,
roubados, dos pêlos do homem
que, antes de mim, era o teu.

Te abri as pernas, as portas,
os segredos e a cama.
Te banhei no gozo de infinitas
noites profanas.
Te ninei em cantigas mundanas.

Depois de lavada, lambida.
Já saciada, curada, vestida.
Retornastes ao teu destino
errante, para os braços do corno delirante!
Me deixando apenas alguns
pêlos dourados - que fiz de lembrança -
de adereço, para vestir pelo avesso,
com outra mulher.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Não pára !!!!


“Que se abram as portas e as comportas da paixão, e que o medo vire um palhaço simpático deitado no chão da minha consciência com as pernas para cima e aquele som inconfundível de realejo ao fundo, e que se dane a claque, quem rí no espetáculo da vida sou eu.”



Quando ela chega, amigo desaparece.
Filho cresce, pai morre, mãe espera.
Quando passo com ela.
Vizinhança enrubesce.
Jardins acontecem
Todas as outras ficam esquerdas e narigudas em movimento.
Inveja empobrece
Porque nem fazendo prece, a gente pára.
Irmão liga.
Campainha toca.
Comida queima.
Água entorna.
E a gente não liga.
Porque a gente simplesmente não atende.
Não entende o porque da urgência dos sentidos.
E os passantes e coadjuvantes do nosso show de pecados, também não!
Vida relativiza.
Patrão espera.
Comida esfria.
Patrão desiste.
E a gente não pára!
Conta vence.
Folha cai.
Roupa amarela.
Pessoas amarelam, sempre amarelam, mas nós não paramos!
Pão envelhece.
Correio passa.
E haja pressa das pessoas para disfarçar a ausência de uma paixão!
Porque nós nos queremos sem pressa, até as nesgas dos dentes!
Olho fecha.
Tesão acelera.
O mundo desanima.
Rua esvazia.
Comércio fecha.
Luz apaga.
Time perde.
Mas a febre de você não passa.
Não cessa.
Paixão, continua!
Porque nós estamos sem pressa!
A Força.


É chegada a hora de cutucar a paixão com vara curta!

Tranca-se o quarto. E os olhos são de cio de fato

No silêncio, o arrepio vem com o tato

O tempo pára, a roupa rasga, o coração dispara!

Agora, as Lolitas modernas vêm do asfalto...

Haja lenço de seda para amarrar tanta moça de fino trato.

O erotismo é um caminho, uma linguagem, um meio de contato!

Construído de lascívia e saliva, da memória dos coitos, pela sutileza dos loucos.

Onde um fio tênue transforma, magicamente, uma mordida em carícia,

Uma cicatriz numa delícia,

No momento exato em que Alice vira Madame Bovary, num jogo de espelhos...

Um mergulhando no corpo do outro, se reencontrando, filtrados ao inverso,

Verso e reverso resfolegados a cada novo véu!

No canto, na quina, na escada, na buceta da menina!

Chorando de fato ou de fita? É grito e lamento, num minuto, é silêncio

Ensurdecedor em outro!!! É a sinfonia que precede o esporro!

De pica, de língüa, de laço,de tapa, perdendo a vergonha, a linha, o sapato,

De pau, de xota, de roxo, de delicadezas,de gozo, de seda, de luto, de quatro!

De sangue, de sonho, de cisma, de contrato!

Orgasmos sísmicos abalando espasmos sísifos, aliterando os substantivos e

subvertendo a ordem, fazendo tremer os puritanos de língua e de lascívia!

E daí? Contando? Censurando? Invejando? Gotejando? Horrorizado?

O que importa? A quem importa?

E que tranque a porta, e me quebre o salto!

-Grita ela!!!!!!!!

-Porque é à força que eu estou querendo!